É raro pegarmos em tradições ritualistas, ou melhor, é bem comum. Assim como é comum dizermos que não lhes ligamos mas no fundo voltar a participar nas ditas cujas.
Não gosto muito que "ano novo" signifique algo para mim mas está tão entranhado na nossa cultura que é inevitável querer que o signifique, e quando o evitamos até sentimos uma certa melancolia. Portanto quero aproveitar esta passagem ritualista, que existe em todo o mundo a diferentes horas, para Repensar. Para meditar acerca do que realmente desejo de bom. E  aqueles objectivos que vemos ao fundo do túnel.

Desde já, o ano passado: houveram promessas, a mim mesma e a mais ninguém, que sinto que não cumpri totalmente. Poderia estar a desenhar melhor, poderia ter evitado mais a minha neurótica natureza.. ou então não, aprender a ir com a corrente, a deixar ir as más situações, acho que de certa forma todos os anos aprendo um pouco mais a conviver comigo. Não fiz tanto quanto queria, mas vejo progresso, vi que não fiquei parada, algo em mim cresceu. E embora tenha momentos de tristeza e frustração tenho momentos de grande alegria e paz.
Portanto só por aí 2014 já contou. 2014 foi um ano de cura e continuação. Sinto-me de facto mais luminosa.

Estava há pouco a pensar, o que vestir para o ano novo.. Pois desde pequeninos que somos habituados a ter a fatiota, a ter algo novo algo refrescante. Não sinto necessidade disso mas sim de conforto. Quero, de certa forma, tomar esta passagem como uma previsão do que esperar dos meus 21 anos. Quero conforto. Quero vestir vermelho para poder ter força, quero corações para ter muito amor, por mim e por todos. Quero aprender a compreender-me um pouco mais, deixar ir os sentimentos negativos e sempre aproveitar o momento, por que nunca sabemos qual é o último. Mas não encarando-o sob essa pressão, apenas aceitando que é uma bênção já sermos quem somos, já é uma bênção as pessoas que conhecemos, os lugares que vamos, até o sentir a chuva sobre o rosto, o trabalho que nos dá cabo da cabeça, as noites de trovoada, o quente da cama e abraços queridos.

Por que temos uma vida.

update 2015__________
uau que coisa lamechas
Para mim a recolha e meditação é parte essencial e fundamental para uma pacífica existência. Divirjo entre a necessidade da solidão e a necessidade dos outros, na sua medida pois a fobia social pode em certos casos aparecer. No entanto a solidão em demasia dá-me não só demasiado tempo para pensar sozinha como a falta de confronto de ideias.

Estou sempre a vaguear por estas duas balanças que controlam a minha emotividade. A auto-reflexão é, talvez, algo que eu faço a maior parte do tempo - o que não é necessariamente benéfico.

Necessito de me entreter, de actividade, de algo que me permita deixar de pensar. A apreciação dos lugares num panorama mais afastado permite-me essa actividade, assim como o exercício físico, caso o faça. No entanto a minha dispersão ocorre precisamente nos locais de maior conforto. Onde estou desconfortável estou organizada, onde me conforto a minha mente percorre ideias que nunca mais acabam numa ordem ao acaso e insociável.

Pegando no tópico acima - a auto reflexão, ou as conversas comigo mesma já me permitiram chegar aos estados mais destrutivos e aos mais iluminados - curiosamente associados à existência de um Ego ou o desaparecimento dele. Por isso mesmo gostaria de expôr essas situações, não comigo mas com o mundo. De certo milhares terão sentido algo similar. Se o meu objectivo é trazer uma certa paz é portanto igualmente confrontar o medo.

Curiosamente apenas escrevo para continuar uma linha de pensamento, pois usualmente a minha escrita é condicionada por esse sentimento de medo. Quando estou bem não sinto necessidade de o escrever.

Chiara Bautista

Um artista é um viciado. Um aficcionado pelo seu objecto de estudo.
Tudo o que a arte dignifica deriva de uma obsessão doentia pela representação e denunciação de uma realidade que, para o artista, é um vício constante e uma tortura necessária à sobrevivência.


Há dias deparei-me comigo a pensar qual é o meu objectivo nas minhas tentativas de objectos artísticos? Por que é que insisti neste ofício quando qualquer outro seria mais directo? Exigiria igual dedicação mas não estaria tão dependente dos sentimentos (creio eu). Claro que nos afecta se estamos mal e temos de marrar - mas termos de nos expressar... Odiando a forma como nos expressamos..

O facto é que tenho fobia de pessoas, acabo sempre por ter fobia de pessoas. Fobia e fascínio. Por que aquilo que realmente mais gosto de fazer é transmitir a paz que tento alcançar e muitas vezes não tenho. É um objectivo a atingir, a sensação, o modo de vida, o estar, e passá-lo ao outro.
O que quero de facto é ser boa pessoa.

E no que é que tal consiste? No bem desinteressado? Ajudar sem esperar ser ajudado. Dar sem esperar ser dado. Ora pela nossa natureza individualista mesmo quando não queremos esperar retribuição esperamos pelo menos simpatia. A expectativa mata.




Mas tomo por vezes atitudes que me parecem a mais correcta no momento. Preciso de o expressar, preciso de dizer ao outro. No entanto na natureza do outro está o não querer saber, ele não necessita disso. Evito conflito e dou por mim a provocá-lo por não ser totalmente submissa. E apenas por essa razão, por confrontar a minha moralidade com o mundo, com o que na altura me parece o melhor. E diriam que ninguém me pode julgar, certamente todos seguimos esse caminho, ou pelo menos, tentamos. Mas quando somos pessoalmente abordados por tal situação reagimos sempre de forma consoante.
E na verdade há quem não se preocupe com tais questões. Mas como a minha inevitável fobia e fascinação se ronda no contacto humano.. é como uma mini tortura que imponho a mim mesma, sempre a matutar.


Hermann Nitsch
O corpo da mulher é feito, essencialmente, para o recobro. Sem o recobro a mulher não é mulher, assim como sem a tortura.


Hoje é o dia da Mãe, 

Mas o dia da mãe são todos. Não é uma data que o define, mas é uma data para relembrar que no quotidiano uma mãe não nasce só de dar à luz, uma mãe é bem mais do que isso. Uma mãe são todos os dias que essa mãe existiu, pensou, preparou, ajudou, dedicou. São todos os dias que nem são notados por serem considerados rotina, mas os esforços estão lá, e são mais do que muitos. Podemos não dizer mas sabemos que, por alguma razão uma mãe tem um lugar tão especial no coração. É uma mãe de amor incondicional, que não nos julga e aceita em tudo, mesmo quando não compreende faz o seu melhor para evoluir como mãe, e como ser humano, por que quer aceitar o filho e compreendê-lo. A mãe suscita uma possibilidade de humanismo que todos deveríamos ter nos nossos corações mas que raramente acontece, e felizmente acontece mais às mães. 

No entanto uma mãe é também um ser humano, às vezes super-mulher, como qualquer outra pessoa, o maior desafio de uma mãe, em ser mulher e pessoa, seja mesmo talvez ser mãe. Desprover-se de tamanha parte do ego apenas para dar, no entanto e no final, a mãe sabe o quão ser mãe a ajudou a evoluir na vida e deseja até a empatia futura de futuras mães. Por que no final de todos os sacrifícios, ser mãe é algo muito bonito, por que a mãe experiência uma capacidade humana, muitas vezes desapreciada mas que toma a maior das importâncias para a nossa auto-realização como seres existentes nesta terra. E é por isso que dizem que as mães são loucas, que fariam tudo pelos filhos mesmo quando sabem que não têm perdão. É uma luta de aprendizagem entre o amar e controlar o amor, por que se apercebem que o que mais interessa são os sentimentos verdadeiros e não compreendem a incompreensão perante os mesmos que ali estão plantados. Mas no final a mãe sabe que o maior sentimento de todos é a compaixão, e é por ele que se governa. É pela compaixão que se é mãe,
e a minha mãe é a maior compaixonadora.


Hoje deparei-me com uma situação algo vaga de uma certa frieza crescente mas algo ignorada perante mim e alguém mais.. Após esse contacto que nem muito tomei atenção por que, para mim, a verdade é que esse alguém mais é boa pessoa e alguém que eu aprecio imenso, vim a ver mais tarde um desejo por essa certa frieza vinda desse mesmo alguém.. Um tanto óbvio de me quererem afastar, que tentei ignorar para não mais ser magoada por questões fora do meu controlo.

Mas de facto sabê-lo assim ainda me magoou. Há certos votos de confiança que já vi que não podem ser dados. Seja por discrepância de pensamento ou geração, se não funciona com alguém não podemos forçá-los a estar no mesmo patamar que nós, seja acima, abaixo, à esquerda ou à direita..por que é a sua realidade e não a nossa..

Portanto de novo o porquê de assumir sem confrontar? Para mim o confronto tornou-se algo necessário e ideal. Não é violento, é passivo, é a aceitação do outro como ele é com opiniões e situações diferentes das nossas. Na sua realidade aquilo é o que lhe faz sentido e a discussão leva a um entendimento mutuo ou, no mínimo, a uma aceitação da diferença.