Okay, quem somos nós?
Somos estudantes sem rendimento próprio que ainda não atingiram o auge de adulto funcional.



Pois, peço desculpa, mas ainda não conseguimos priorizar uma tarefa sem outra cair em detrimento, e o lavar o chão ainda não é compatível com ir ver exposições ao fim-de-semana. 
Porque, adivinhem - ainda não temos empregada nem transporte próprio. Aquilo que se resumiria a uma hora acaba por ocupar três, se não uma tarde inteira - para além de que as tarefas domésticas são constantemente adiadas  por prioridade académica, para que, quando as finalmente encaremos seja uma balburdia de coisas para lavar.

A verdade é que, por muito que nos custe, ainda não conseguimos ir a Veneza por que os 200 euros a poupar já os gastamos todos os meses na renda do quarto, com dinheiro que não é nosso, e chegamos a ter semanas que vamos para o continente com as compras contadas. No início é fácil discernir as compras entre o indispensável e o comodismo. Mas a verdade é que para conseguirmos estar bem como seres humanos, num ambiente estranho e longe dos mimos da mãe precisamos minimamente desse comodismo, e acabamos por precisar de contar com esses pequenos gastos (café, bolachas etc) que no primeiro ano eram completamente postos de parte pelo amor à poupança, o que provavelmente só veio acumular na nossa crise existencial dos 20 anos. 




Somos estudantes sem um percurso conciso. Há tantas coisas que vemos, especialmente sob o fantástico fenómeno do fácil acesso à informação - que quer seja nas  aulas teóricas ou fora delas - queremos ler e saber, mas culpabilizamo-nos de não desenhar se estivermos a ler, e de não ler se estivermos a fazer outra coisa qualquer. Tanta coisa que vemos pela primeira vez ficamos fascinados com demasiada diversidade e não nos conseguimos concentrar num caminho. Mas há tanto para desenhar e tanto para ler que nunca conseguiríamos esgotar os recursos sem fundo ou deixar de ter algo com que nos entreter - o que se torna uma constante na dinâmica da procrastinação. Essa imagem é tão assustadoramente infinita que acabamos por ficar que nem uns burros a olhar para um palácio e acabamos por não fazer "nada" durante horas. Acabamos a vaguear num percurso infindável para o constante perfeccionismo de uma coisa que não sabemos aperfeiçoar de outros modos, somos amadores no mundo profissional - apenas para nos dizerem que não estamos bem, em lado nenhum.


 
E sim, tudo isto é normal enquanto crescemos e descobrimos quem somos como pessoa, como artista em potência - mas também é frustrante, também é exaustivo e não são só "desenhos".  Por isso por favor parem de olhar para nós como o cúmulo da ignorância e inutilidade por nunca termos visto Newman ao vivo. Por que todos somos humanos, todos temos algo de novo a aprender uns com os outros e tentamos fazer o nosso melhor sob as constantes e derivadas em que vivemos.

E já agora, eu também adoraria ir tomar um café a Veneza. Mas não dá p'ra tudo.